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Produtores de soja do Paraguai enfrentam 'tobogã' na guerra tarifária
Publicado em 25/04/2025 11:30
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ASSUNÇÃO, 25 de abril (Reuters) - Para os produtores e exportadores de soja do Paraguai, a guerra tarifária comercial global é uma jornada imprevisível que os faz temer os efeitos da volatilidade e também torcer por uma maior demanda chinesa por farelo e óleo de soja sul-americanos.

O país sem litoral é o terceiro maior exportador mundial de soja, atrás do Brasil e dos Estados Unidos, com exportadores como Cargill, Viterra e Bunge. A maior parte de sua produção é destinada a plantas de esmagamento nos vizinhos Brasil e Argentina.

Os agricultores foram afetados pela flutuação dos preços, em parte impactados pelo impasse tarifário entre os Estados Unidos e parceiros comerciais globais, incluindo a China, grande compradora de soja.

"É como um passeio de tobogã", disse Héctor Cristaldo, presidente da União das Guildas de Produção, entidade que representa os produtores rurais, aos repórteres esta semana, referindo-se às tarifas dos EUA que agitaram os mercados e afetaram os preços dos grãos.

"Não sabemos onde o mercado vai se recuperar e onde vai se estabilizar."

Um ponto positivo é a previsão climática mais favorável para a próxima temporada, após a seca ter reduzido a colheita de soja do país para cerca de 8,5 a 9 milhões de toneladas na temporada atual. A soja tardia ainda está sendo colhida.

"Estamos passando de uma condição climática 'neutra fria' para uma 'neutra quente', o que pode trazer um bom nível de precipitação", disse Hugo Pastore, CEO da Associação de Exportadores do Paraguai, CAPECO.

Fontes da indústria estimaram uma produção de mais de 10 milhões de toneladas na safra 2025/26, com as chuvas aliviando as lavouras e elevando o nível dos rios, fator crucial para o transporte da oleaginosa. Dados do governo dos EUA preveem produção de mais de 10 milhões de toneladas até 10,9 milhões de toneladas.

O aumento será benéfico para o Paraguai, mesmo que o plantio só comece no final do ano. A queda nas exportações no primeiro trimestre – de 2,5 milhões de toneladas para 2,2 milhões no ano anterior – prejudicou a renda em dólar e desvalorizou o guarani, moeda local.

No entanto, as autoridades alertaram que a volatilidade do mercado após anúncios de tarifas comerciais e novas regulamentações da União Europeia pode criar mais desafios.

Os exportadores têm até dezembro de 2025 — adiado no início deste ano devido ao lobby dos países exportadores de soja — para cumprir as novas regras da UE de que toda a soja importada para a área econômica deve ser livre de desmatamento.

"Estamos preocupados com as tarifas e o que acontecerá quando essas novas regras da UE entrarem em vigor", disse Pastore.

O agricultor paraguaio Valdecir De Souza, que cultiva soja perto da fronteira do Paraguai com o Brasil, disse que estava positivo devido às chuvas melhores e que conseguia ver um lado positivo na guerra comercial.

Ele disse que isso poderia aumentar a vantagem competitiva do país, fornecendo grãos crus para outros países, que depois seriam enviados a mercados finais como a China. O Paraguai não mantém relações comerciais diretas com a China devido aos laços de décadas com Taiwan.

Analistas agrícolas disseram que uma escalada da nova guerra comercial poderia direcionar mais demanda chinesa para a América do Sul ao longo do tempo, como foi o caso do Brasil em 2018 .

"Poderíamos ter uma vantagem competitiva, encontrando novos mercados para os nossos produtos", disse De Souza, de 58 anos. "Vejo que, por um lado, é bastante preocupante... mas, por outro, isso pode abrir novas portas para a nossa soja."

Reportagem de Daniela Desantis e Lucinda Elliott; Reportagem adicional de César Olmedo; Edição de Adam Jourdan e Philippa Fletcher

Fonte:
 Reuters
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